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“Um pedaço do inferno, aqui é onde eu estou, até o IBGE passou aqui e nunca mais voltou” – Racionais MC’s
Em 2010 ocorreu o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o maior compilado de dados sobre a realidade da população do Brasil. Este levantamento, que é realizado a cada 10 anos, já está atrasado e corre o risco de atravessar 2021 sem ser colocado nas ruas. Por conta disso não há dados novos e todas as políticas públicas de abrangência nacional, estadual e municipal podem sofrer, ou já sofrem, um revés por causa da desatualização das informações oficiais do IBGE. Importante frisar que estamos falando do Censo 2020.
O IBGE iria contratar 200 mil pessoas para o trabalho de recenseadores, profissionais que vão às residências coletar dados para a pesquisa do Censo nas cidades brasileiras, mas tudo foi adiado muito em função dos nefastos efeitos da pandemia de Covid-19 em 2020.
Além da pandemia do novo coronavírus outros aspectos enfraqueceram a infraestrutura necessária para a realização do Censo 2020. Em São Paulo, por exemplo, o esvaziamento das instituições de pesquisa como a Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano de São Paulo) e o Cepam (Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal) assinalam dois fatores presentes e inaceitáveis pois são órgãos que sempre auxiliaram todo o processo junto ao IBGE.
Este esvaziamento das instituições de pesquisa, métodos científicos de coleta. Geração e análise de dados, é reflexo dos ataques do atual governo que alimentou a negação à ciência, o que afeta cearas que nossos olhos do dia a dia pouco alcançam.
Estamos longe de vislumbrar um conjunto consiste de medidas que coloquem o sendo para andar, que tragam uma solução para o atraso na realização censo que, como vimos não se dá apenas por conta da existência da pandemia, mas também por falta de recursos na casa de R$ 2 bilhões que podem ser realocados para o Ministério da Defesa e outros ministérios, conforme apurou o jornal O Estado de São Paulo, em reportagem do dia 19 de agosto de 2020.
Por conta desse imbróglio em torno do IBGE, o cenário que surge nas cidades é a falta de informação sobre a organização de comissões municipais de geografia e estatísticas – formadas por membros da sociedade civil e do Poder Público – o que é fundamental para a realização do trabalho de pesquisa. E também a contratação de pessoas para trabalhar como recenseadoras. É possível ler no perfil no Instagram, o IBGE: “Devido a problemas técnicos, os boletos para pagamento da taxa de inscrição nos processos seletivos simplificados do Censo Demográfico 2021 foram retirados temporariamente do site da Cebraspe e os candidatos serão informados quando a situação for normalizada. Se você já se inscreveu e quer efetuar o pagamento da taxa de inscrição, não se preocupe pois haverá tempo hábil para fazê-lo tão logo a situação seja resolvida.”
Este é o cenário que o Brasil se encontra atualmente. É claro que há risco para os 200 mil recenseadores, que teriam dificuldades para trabalhar nas ruas para coletar os dados do censo, mas há outros caminhos como o censo por ligação telefônica – ainda que seja necessário o acesso aos números de telefone de cada residência. O fato é que nesse momento de pandemia, o IBGE precisa do auxílio desses informantes para que as entrevistas possam ser realizadas e, assim, as pesquisas continuem. Afirma o IBGE: “Desde que as entrevistas começaram a ser feitas por telefone, os desafios na coleta aumentaram, sendo o principal deles conseguir os números de telefone dos moradores dos domicílios selecionados. Para reverter esse quadro, o IBGE tem enviado correspondências aos domicílios, solicitando que os informantes entrem em contato com o Instituto e forneçam o número”.
Entre outros efeitos do atraso, para se ter ideia, o Censo é tão importante que o Plano Nacional de Vacinação é realizado com base nos dados coletados pelos recenseadores do IBGE nas cidades brasileiras.
E segue o barco!
Marcos Agostinho Silva é sociólogo, cientista político e diretor do Instituto MAS Pesquisa.
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